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sábado, 26 de setembro de 2009

Corpo e Alma no Estoicismo


Estóico era o nome dado aos filósofos que freqüentavam a Stoa, que em grego quer dizer Pórtico. Os filósofos do Pórtico, que se situava em Atenas, cultivavam uma doutrina que concebe que o homem deve buscar a sabedoria e a felicidade.
Em linhas gerais, o estoicismo admite ideal de perfeição para o homem, de forma que todo sábio é necessariamente feliz. De acordo com os estóicos, só a alma livre de qualquer paixão e governada apenas pela razão possui sabedoria e virtude. A alma, sendo uma emanação da mente divina, é de ordem superior e só pode ser comparada com a divindade. Por isso, quando cultivada e curada das ilusões capazes de cegá-la, alcança o alto grau de inteligência que é a razão perfeita, chamada virtude.
Partindo da perfeição da natureza de onde se deduz a racionalidade do cosmo, chega-se à perfeição do homem, que é a virtude. A virtude é então o meio e o fim que o homem deve alcançar para ser sábio e feliz.
Iniciando sua reflexão pela natureza como um todo, a razão estóica conduz sua dedução do todo para as partes, até chegar a uma, particular e especial: o homem. A natureza é o todo porque é ela que gera todas as coisas, ela é divina porque Deus é imanente a ela, confunde-se com ela. O homem ocupa lugar privilegiado no cosmo, pois a natureza o distinguiu de todos os animais, conferindo-lhe traço divino. Afinal, o traço distintivo do homem é a razão, que ele possui porque sua alma é uma emanação da mente divina. A alma humana, diferentemente dos outros animais, é racional, emana da própria Razão Universal.
O ideal estóico é o de uma transmutação íntima que transfiguraria o indivíduo inteiro em pura razão.
As ilusões, as paixões que cegam a alma, são quatro: a alegria, a tristeza, o medo e o desejo. O sábio estóico não é acometido por nenhuma paixão, porque cultivou em sua alma a apatia, a ausência de toda e qualquer paixão. Assim, é somente a alma cultivada, transfigurada em pura razão, que possui sabedoria e virtude. A Razão Universal, a razão perfeita, é a virtude mesma.
Há nessa doutrina uma profunda crença na autossuficiência da razão que, em identificação com a virtude, é infalível e inquebrantável. Por meio do correto cálculo da razão, de posse da razão perfeita, o homem dobra, erradica qualquer desejo, qualquer paixão, vício, e preserva um estado de tranqüilidade, de felicidade, que nada exterior a ele pode abalar.
Na doutrina estóica, a idéia de uma alma separada do corpo é inconcebível. Ambos são da mesma natureza, indistintamente unidos porque corpóreos. Se a alma é gerada pela natureza, se seu princípio é material, ela necessariamente é material. É devido a certa estrutura física e psíquica da alma que ela é capaz de apreender a natureza como geratriz de todas as coisas, de apreender a racionalidade do cosmo, o modo de ser de cada parte da natureza, e conhecer-se a si mesma, descobrir a virtude como seu modo de ser por excelência. A alma humana somente pode apreender a ordem do cosmo porque ela possui em si mesma a racionalidade e a materialidade desse cosmo.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Corpo e Alma em Aristóteles I (Conhecimento e Intelecto)


Para Aristóteles o conhecimento nasce do assombro e da admiração, portanto é resultado do questionamento de nosso espírito sobre os dados da experiência sensível. As sensações de prazer emanam do corpo. A satisfação produzida pelas sensações visuais demonstra que o saber é tanto um prazer quanto um instinto. Pois, a visão é o mais importante dos sentidos, o que mais se assemelha ao conhecimento em si. Essa sensação, mais que qualquer outra, nos permite adquirir conhecimento e nos revela de imediato uma grande quantidade de diferenças...
Quem se encontra em um estado de incerteza e de assombro, acredita ser ignorante. E assim, os homens começaram a filosofar para livrar-se da ignorância, por um amor ao saber e não por alguma necessidade prática. Para ele, entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico existe uma continuidade: pois, ambos buscam o fim último das coisas.
O intelecto em Aristóteles surge da relação entre a alma e o corpo. Alma e corpo não são entidades separadas. A alma é “causa e princípio do corpo vivo”. Suas manifestações como coragem, doçura, temor, piedade, audácia, alegria, amor e ódio apresentam-se através do corpo. A alma coordena as funções vitais do organismo que são: sensações, afeições e atividades, sensibilidade e entendimento.
O homem é uma unidade substancial de alma e de corpo, em que a primeira cumpre as funções de forma em relação à matéria, que é constituída pelo segundo. O que caracteriza a alma humana é a racionalidade, a inteligência, o pensamento, pelo que ela é espírito. Mas a alma humana desempenha também as funções da alma sensitiva e vegetativa, sendo superior a estas. Assim, a alma humana, sendo embora uma e única, tem várias faculdades, funções, porquanto se manifesta efetivamente com atos diversos.

Corpo e Alma em Aristóteles II (O homem e as criaturas)


Algumas criaturas animadas possuem todas as faculdades, outras algumas e outras ainda, apenas uma. As faculdades da alma são: a Faculdade Nutritiva, a Faculdade Sensitiva e a Faculdade Intelectiva.
· Alma Nutritiva: que é o princípio mais básico e elementar da vida, responsável pelas funções biológicas como nutrição, crescimento e geração. É por essa faculdade que os seres vivos perpetuam suas espécies respectivas.
· Alma Sensitiva: que além de responsável pelo movimento, é também responsável pelas sensações do corpo. Aristóteles quer dizer que cada órgão dos sentidos percebe do mesmo objeto as características que são próprias de sua função.
· Alma Intelectiva (Intelecto): Dessa faculdade intelectiva, somente o Homem é dotado, pois somente ele tem a capacidade de conhecer. Aristóteles caracteriza o Intelecto como “aquela parte da alma que permite conhecer e pensar” Para explicar esse conhecimento sensível, que depois dá lugar ao inteligível, Aristóteles apresenta a teoria da abstração que procura explicar toda a estrutura do conhecimento intelectivo. No processo de abstração, a inteligência negligencia os aspectos singulares e realiza, assim, uma abstração total, retendo tão somente a forma, que é universal, pois pertence aos indivíduos indistintos.

A alma como princípio da vida e do movimento também está presente nos animais. A diferença entre o homem e os animais é uma questão de grau. O Homem é o único ser vivo que é dotado das três faculdades da alma. Faculdades Nutritivas, Sensitivas e Intelectivas. O Homem tem a capacidade de se nutrir, reproduzir, captar os objetos através dos sentidos e também é capaz de conhecer por meio do Intelecto.
As faculdades fundamentais do espírito humano são duas: teorética e prática, cognoscitiva e operativa, contemplativa e ativa. Cada uma destas, pois, se desdobra em dois graus, sensitivo e intelectivo, se se tiver presente que o homem é um animal racional, quer dizer, não é um espírito puro, mas um espírito que anima um corpo animal.
Para Aristóteles, acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível, especificamente diverso do primeiro. Ele aceita a essencial distinção platônica entre sensação e pensamento, ainda que rejeite o inatismo platônico, contrapondo-lhe a concepção do intelecto como tabula rasa, sem idéias inatas. Objeto do sentido é o particular, o contingente, o mutável, o material. Objeto do intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as formas das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto. Por conseqüência, a alma humana, conhecendo o imaterial, deve ser espiritual e, quanto a tal, deve ser imperecível.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Corpo e Alma em Platão



Como podemos conhecer se a idéia não provém ou emana do conhecimento sensível?





Para responder a essa questão, Platão elabora a teoria da reminiscência, onde afirma que a alma é imortal e muda de corpo após a morte. Nessa mudança de corpo, as almas contemplam as idéias perfeitas. O conhecimento do mundo real se dá pela lembrança do mundo ideal.

Assim, Platão elabora a teoria do inatismo. A alma recupera a idéia perfeita antes de encarnar; Adquirimos o conhecimento antes de nascer e o carregamos conosco ao nascer (...) por que o saber é isso: adquirido um conhecimento, conservá-lo e não esquecê-lo.

A ignorância é importante para a sabedoria, pois a pessoa que se considera ignorante sobre algo, não que ela seja "burra", mas sim, que tem humildade para buscar conhecimento, saber, ter curiosidade para cada vez aprender mais.

A alma é o sopro vital, presente em todos os seres. É definida como aquela que tem capacidade de mover por si mesma. Está dividida em três partes: a racional, localizada no cérebro - o ímpeto, localizado no peito e os apetites localizado no ventre.
Morrer para o filosofo é libertar-se do cárcere do corpo.

O corpo como túmulo da alma, significa que o corpo e a alma são duas existências distintas. Uma existência aparente (corpo) e uma existência real (alma). O inteligível (alma) é capaz de conhecer por meio das reminiscências, e o sensível (corpo) participa do inteligível.
Há uma separação entre corpo e alma, sendo o homem um misto, e não uma unidade desses dois aspectos. O aparente se altera, morre e o inteligível permanece, pois é uma realidade estável.


Pensar sobre o corpo exige pensar sobre a existência, sobre a aparência, sobre a vida e a morte, sobre a finitude, sobre o tempo, sobre o sensível e o invisível.
Para o filósofo, o corpo está sujeito aos males da condição humana, sobre a qual se impõe a natureza, devendo portanto, obedecer à alma e serví-la pois, o corpo é ininteligível, multiforme, dissolúvel e jamais igual a si mesmo. Já a alma é inteligível, estável e imortal, devendo pois comandar e dirigir.
Segundo Platão, o corpo é um obstáculo para a alma que busca a verdade.

O material (corpo) é modelado, é o que recebe a essência ou forma divina, se altera e se destrói. Essa alteração é como uma resistência à informação divina, o que justifica sua destruição e morte.

"Ora, a alma pensa melhor quando não tem nada disso a perturbá-la; nem a vista, nem o ouvido, nem a dor, nem prazer de espécie alguma, e concentrada em si mesma, dispensa a companhia do corpo, evitando qualquer comércio com ele, e esforça-se por apreender a verdade." (Fédon)

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adaptado de "Filosofia Ciência & Vida", n. 37