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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Como tornar-se o que se é – Nietzsche (1844-1900)

Nascido em 15 de outubro de 1844, Friedrich Nietzsche foi um grande pensador, um dos mais influentes de nossa época. Sua crítica radical das idéias e valores da modernidade não exclui as ciências, as artes, nem mesmo a política modernas, que para o autor, são apenas versões laicas do cristianismo, ou seja, totalmente impregnados pela moral cristã. Pretende criar com essa crítica, um novo tipo de homem, um tipo nobre, que diz “Sim” à vida!
Conhecido como o filósofo que constatou a “morte de Deus”, sua filosofia a golpes de martelo, quer demolir a idéia de verdade ou o que até agora se chamou de verdade: o cristianismo como “única verdade” para fazer dele “uma das muitas outras interpretações possíveis do mundo”.
Em sua obra A Genealogia da Moral, estuda a origem e a história dos valores morais. Sua conclusão é que não existem as noções absolutas de bem e mal, certo e errado. Os valores morais  surgem da cabeça do homem, a partir de suas próprias avaliações e necessidades, ou seja, o homem é um criador de valores, um animal que avalia. O propósito do pensamento não é a descoberta da “Verdade” como tem sustentado grande parte da filosofia ocidental, mas sim, garantir a sobrevivência no mundo. Nossa espécie evoluiu porque tivemos a necessidade de criar idéias que nos ajudassem a organizar nossas vidas, nossas mentes, e nossa sociedade. Precisamos pensar coisas que não são verdadeiras para dar sentido ao que na verdade é uma realidade caótica.
Nietzsche afirma que precisamos olhar “além do bem e do mal” se quisermos realizar o potencial da vida. Precisamos criar nossos valores e desprezar os sentimentos de ‘rebanho’ – todas aquelas pessoas comuns que gostam de ficar juntas e pensar e agir da mesma maneira. – Como um indivíduo, você deve viver para si próprio, da sua própria maneira. Você deve evitar ser classificado pelos outros, bem como viver de acordo com as expectativas das outras pessoas. Viver para si próprio significa exercer controle sobre as situações e ser bem-sucedido nelas de modo a tornar-se feliz. O que faz você feliz não é determinado pelo que os outros pensam, mas somente por você. Se você obedecer à sua vontade, ficará feliz com suas ações e com sua vida de um modo geral. Você não se arrependerá e ficaria satisfeito em viver a mesma vida outras vezes.
Espírito irrequieto e eruptivo, clamava por liberdade, rompendo grilhões, desfazendo a opressão da moral tradicional, demolindo religiões, vociferando contra a falsidade e a hipocrisia da sociedade, semeando paradoxos, sua vida foi um campo de batalha, no qual o pensamento e a reflexão eram suas armas e seu escudo. Nietzsche valoriza a arte e o indivíduo, toma a vontade como tema central, mas pretende uma ruptura total com a tradição filosófica, na qual vê uma das principais causas da decadência da civilização e da fraqueza do homem. Zomba do racionalismo crítico moderno, de sua pretensão de fundamentar nosso conhecimento e nossas práticas. Nietzsche estava convencido de que o indivíduo é capaz de evoluir para algo melhor do que o que atualmente concebemos como indivíduo. Ele se referiu a esse indivíduo superior como o “Übermensh”, costumeiramente traduzido como “super-homem” ou “além do homem”. Atingir esse "novo homem" acima, muito acima do homem que conhecemos hoje, é a meta dessa estrada rumo ao "tornar-se o que se é".
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 Quem alcança seu ideal, vai além dele
F. Nietzsche (Além do Bem e do Mal - 73)


terça-feira, 31 de maio de 2011

Karl Marx – Modo de Produção e Luta de Classes


Modo de produção é a maneira como se organiza a produção material em um dado estágio de desenvolvimento social. Essa maneira depende do desenvolvimento das forças produtivas (a força do trabalho humano e os meios de produção, tais como máquinas, ferramentas, etc.) e da forma das relações de produção.
Marx define os seguintes modos de produção dominantes em cada época: o comunismo primitivo; o escravismo na Antiguidade; o feudalismo na Idade Média e o capitalismo na Idade Moderna.
A passagem de um modo de produção a outro, segundo o filósofo, dá-se no momento em que o nível de desenvolvimento das forças produtivas entra em contradição com as relações sociais de produção. Quando isso ocorre, há um sufocamento da produção em virtude da inadequação das relações nas quais ela se dá. Nesse momento, surgem as possibilidades objetivas de transformação desse modo de produção.
De acordo com Marx, caberia à classe social que possui, nesse momento, um caráter revolucionário intervir por meio de ações concretas, práticas, para que essas transformações ocorram. Foi o que aconteceu, por exemplo, na passagem do feudalismo ao capitalismo, com as revoluções burguesas.
Marx sintetiza essa análise na afirmação de que a luta de classes é o motor da história, isto é, a luta de classes faz a história se mover.
A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e aprendiz; numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta[1].
De acordo com Marx, o capitalismo também criou uma classe revolucionária que, em virtude de suas condições de existência, deve se organizar para, no momento oportuno, fazer a revolução social rumo ao socialismo. Essa classe revolucionária seria o proletariado.



[1] Manifesto Comunista, 1848.
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COTRIM, Gilberto & FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia, São Paulo : Saraiva, 2010

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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Karl Marx (1818-1883) - O Materialismo Dialético e Histórico


Marx fez uma crítica radical ao idealismo hegeliano, na qual afirma que Hegel inverte a relação entre o que é determinante – a realidade material – e o que é determinado – as representações e conceitos acerca dessa realidade. A filosofia idealista seria, assim, uma grande mistificação que pretende entender o mundo real, concreto, como manifestação de uma razão absoluta.
Marx procurou compreender a história real dos seres humanos em sociedade a partir das condições materiais nas quais eles vivem. Essa visão da história foi chamada de materialismo histórico. Para Marx não existe o indivíduo formado fora das relações sociais, como o querem Hegel, Feuerbach, Schopenhauer, Kierkegaard e outros tantos. Para ele “A essência humana é o conjunto das relações sociais”, o que significa que a forma como os indivíduos se comportam, agem, sentem, e pensam vincula-se à forma como se dão as relações sociais. Essas relações sociais, por seu lado, são determinadas pela forma de produção da vida material, ou seja, pela maneira como os seres humanos trabalham e produzem os meios necessários para a sustentação material das sociedades.
A forma como os homens produzem esses meios depende em primeiro lugar da natureza, isto é, dos meios de existência já elaborados e que lhes é necessário reproduzir;[1]
Ao falar da produção material da vida, Marx não se refere apenas à produção das inúmeras coisas necessárias à manutenção físicas dos indivíduos, considera o fato de que, ao produzirem todas essas coisas, os seres humanos constroem a si mesmos como indivíduos. Isso ocorre porque, “o modo de produção da vida material condiciona o processo geral de vida social, política e espiritual”[2]. Marx reconhece o trabalho como atividade fundamental do ser humano e analisa os fatores que o tornaram uma atividade massacrante e alienada no capitalismo. Marx pretende expor a lógica do modo de produção capitalista, em que a força de trabalho é transformada em uma mercadoria com dupla face: de um lado, é uma mercadoria como outra qualquer, paga pelo salário; de outro, é a única mercadoria que produz valor, ou seja, que reproduz o capital.
Marx também entende o desenvolvimento histórico-social como decorrente das transformações ocorridas no modo de produção. Nessa análise, ele se vale dos princípios da dialética, mas garante que seu “método dialético não só difere do hegeliano, mas é também sua antítese direta”[3]. Na concepção hegeliana, a dialética torna-se instrumento de legitimação da realidade existente. No pensamento de Marx, a dialética leva ao entendimento da possibilidade de negação dessa realidade “porque apreende cada forma existente no fluxo do movimento, portanto também com seu lado transitório”. Ou seja, a dialética em Marx permite compreender a história em seu movimento, em que cada etapa é vista não como algo estático e definitivo, mas como algo transitório, que pode ser transformado pela ação humana. De acordo com Marx, a história é feita pelos seres humanos, que interferem no processo histórico e podem, dessa forma, transformar a realidade social, sobretudo se alterarem seu modo de produção.



[1] A Ideologia Alemã – introdução
[2] Para Crítica da Economia Política – prefácio
[3] O Capital
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COTRIM, Gilberto & FERNANDES, Mirna. Fundamentos de Filosofia, São Paulo : Saraiva, 2010

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quarta-feira, 18 de maio de 2011

Ludwing Feuerbach (1804-1872)



Filósofo monotemático, Feuerbach interessou-se pela investigação de um único problema, justificando-se: "A primeira tendência que se fez luz em mim não foi gerada pela ciência, ou pela filosofia, mas pela religião. Acompanhando essa tendência eu fiz da religião o fim e a profissão de minha vida... O meu primeiro pensamento foi Deus, o segundo, a razão, e o último o homem". Na verdade, estava interessado não tanto no problema da existência de Deus, mas no processo de formação da idéia de Deus no pensamento humano, e toda a sua filosofia pode ser resumida na seguinte máxima: não é Deus quem cria o homem, mas o homem quem cria Deus.
Nascido em Landshut, na Baviera, Ludwing Feuerbach estudou teologia na Universidade de Heidelberg. Posteriormente, em Berlim, assistiu às aulas de Hegel, que o impressionou profundamente - "aprendi em um mês com Hegel tudo o que não aprendi antes, em dois", contou ele. A ruptura com o mestre, todavia, deu-se muito cedo e concretizou-se nos Pensamentos sobre a Morte e a Imortalidade, ensaio que, pela tese anticristã desenvolvida, lhe custou a carreira universitária. A fama de ateu determinou a total marginalização do filosofo no ambiente acadêmico; somente em 1848, a convite da liga de estudantes revolucionários de Heildeberg, teve a oportunidade de ministrar um curso universitário, publicado três anos mais tarde (Lições sobre a Essência da Religião). Passou o resto da vida isolado e na miséria.
Obras: Pensamentos sobre a Morte e a Imortalidade (1830)
Crítica da Filosofia Hegeliana (1839)
A Essência do Cristianismo (1841)
A Essência da Religião (1845)
Lições sobre a Essência da Religião (1851).
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Todo homem, pensando em Deus, constrói-se a si mesmo.
Os atributos de Deus são os instrumentos da inteligência humana.
Deus foi criado à imagem e semelhança do homem.

extraído de: NICOLA Ubaldo, Antologia Ilustrada de Filosofia, São Paulo : Globo, 2005.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Arthur Schopenhauer


O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) foi quem atacou com maior veemência o pensamento hegeliano. Apesar de sua grande cultura, só seria reconhecido nos últimos anos de sua vida.

Na obra O Mundo como Vontade e Representação, sustenta que, como o conhecimento é uma relação na qual o objeto é percebido pelo sujeito, o ser humano não conhece as coisas como elas são, mas como podem ser percebidas e interpretadas. Nesse aspecto, faz um retorno a Kant e opõe-se à possibilidade do saber absoluto que Hegel preconizava.

Para Schopenhauer, porém, tudo o que o mundo inclui ou pode incluir é inevitavelmente dependente do sujeito, não existe senão para o sujeito. O mundo é representação. Isso quer dizer que, para ele, não existe uma realidade exterior absoluta e que, para existir o conhecimento do mundo, é preciso existir o sujeito.

Dessa forma, Schopenhauer afasta-se da reflexão de Kant e iniciava a sua própria filosofia. A representação do mundo seria para ele como uma “ilusão”, pois o objeto conhecido é condicionado pelo sujeito. Mas, também diferentemente de Kant, admite ser possível alcançar a essência das coisas por meio do insight intuitivo, uma espécie de iluminação. Nesse processo, a arte teria grande relevância, pois a atividade estética permitiria ao ser humano a compreensão da verdade. Pela arte, o sujeito se desprenderia de sua individualidade para fundir-se no objeto, em uma entrega pura e plena. Nesse ponto, Schopenhauer seria um romântico.

Sua filosofia, de outro ângulo, caracteriza-se por uma visão pessimista do indivíduo e da vida. Para ele, o ser humano seria essencialmente vontade, o que o levaria a desejar sempre mais, resultando em uma insatisfação constante. Essa vontade, que se expressa nas ações humanas, seria parte de uma vontade que anima todas as coisas da natureza. E, se a essência do ser humano e do mundo é essa vontade insaciável, Schopenhauer identifica aí a origem das lutas entre os indivíduos, da dor e do sofrimento.

A história é, para esse filósofo, a história de lutas, em que a infelicidade é a norma. Temos, portanto, a recusa da concepção racionalista de história elaborada por Hegel, segundo a qual ela possui um sentido e progride em direção a uma liberdade maior.

Para Schopenhauer, apenas pela arte e ascese – ou seja, o abandono de si – pode o ser humano libertar-se da dor.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Coisas a serem lembradas sobre o sistema de Hegel:



Coisas a serem lembradas sobre o sistema de Hegel:

* é um sistema em movimento;

* A contradição (a dialética) é o motor;

* O sistema é abrangente;

* A aparência das coisas (em repouso) é diferente de sua realidade (em movimento);

* a história toda é o exercício do Espírito através do tempo. Isto é a marcha da razão

* Lógica = Metafísica.



Para Hegel, a mente constrói a realidade. Mas, em princípio, não sabe disso. Acha que a realidade está fora, independente dela. Assim, ela está alheia a si mesma. Então vê que a realidade é criação sua. Aí conhece a realidade tão claramente quanto se conhece. A realidade e ela são uma coisa só.

Hegel foi o mais importante filósofo do inicio do século XIX a construir sistemas amplos, abrangentes e complexos pretendendo revelar os segredos do homem, da natureza e do universo. O idealismo hegeliano dominou a Alemanha e grande parte do pensamento europeu nesta “era do sistema”. Estranhamente, Hegel e seus seguidores não associaram seus imponentes sistemas às complexas transformações científicas e sociais da época em que viveram.

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OSBORNE, R. "Filosofia para Principiantes", Rio de Janeiro: Objetiva, 1998.

A Dialética Hegeliana


Eis como funciona o sistema:

Começamos com uma tese (uma posição posta em discussão). Em oposição à tese, há uma afirmação contraditória ou antítese. Da oposição entre tese e antítese, nasce uma síntese que abrange ambas. Mas como a verdade só se encontra na totalidade do sistema, essa primeira síntese ainda não é a verdade da questão, mas passa a ser uma nova tese, com uma antítese e uma síntese correspondentes. O processo continua ad infinitum até chegarmos à idéia absoluta.

Hegel afirma que este processo é a base de toda história, e da história do pensamento. Filósofos anteriores são parte do processo dialético em desenvolvimento que leva ao conhecimento e à lucidez, e ao clímax da filosofia que aparentemente é o próprio sistema hegeliano .

O sistema começa com “ser indeterminado puro” e termina com a Idéia Absoluta ou a própria Verdade. Essa Idéia Absoluta é como o “pensamento se pensando”, ou o Deus do filósofo de Aristóteles, o Motor Imóvel.

Hegel diz que este processo de contradição e desenvolvimento é inerente à realidade histórica e ao pensamento, e que o exercício dessas contradições necessariamente conduz a estágios mais elevados.

Isto deve lhe dar uma idéia de como funciona o sistema. Como as coisas se relacionam, se são inevitáveis ou fazem sentido – é outra história.

Hegel disse que a natureza representava a idéia “fora de si”. Idéia lógica, natureza e & espírito, obviamente, têm uma ligação.

Tese

Antítese

Síntese

Idéia Lógica

Natureza

Espírito

Realidade subjacente

Aspecto exterior e não-racional da mesma realidade

Unidade da idéia e natureza







Hegel examina o que considera a esfera mais elevada – o trabalho do Espírito através da história. A dialética é assim:

Tese

Antítese

Síntese

Espírito subjetivo

Espírito Objetivo

Espírito Absoluto

Este espírito (ou sujeito, ou razão, ou mente), que é objetivo e Absoluto, governa o mundo. O Espírito Absoluto ou Idéia Absoluta desenvolve-se através dos tempos e revela-se de modo absoluto a Hegel.

Espírito subjetivo

Espírito objetivo

Espírito absoluto

Funcionamento interno da mente humana

A mente em sua encarnação externa nas instituições sociais & políticas

Arte, Religião, Filosofia

Hegel da muitos exemplos para mostrar que o Absoluto é Espírito. De modo mais interessante, afirma que esse espírito se manifesta nos indivíduos, nas instituições sociais como a família & o estado, e na arte, na religião e na filosofia de uma época.

Esta idéia do Espírito Objetivo como a encarnação externa da mente foi adotada por outros filósofos. O conceito de zeitgeist (literalmente, Espírito do Tempo) – as inter-relações entre indivíduos, sociedade, arte, religião de uma determinada éoca – é fundamental na história moderna. A importância de se entender o todo, o sistema como um todo, ajudou nitidamente a dar forma ao marxismo e a muita coisa depois.

Hegel via então a história como “a marcha da razão no mundo” e as instituições humanas como o produto do devir dialético.

Hegel e o Espírito Absoluto


Hegel foi o maior dos idealistas alemães, certamente o mais difícil de entender e possivelmente o mais escandaloso em suas pretensões de ter entendido toda a história da filosofia. Foi professor universitário e catedrático de filosofia durante quase toda a vida e, como Kant, quase mais nada fez.

No inicio, Hegel era um tanto místico, e alguns críticos sugerem que ele jamais superou esta característica. De seus muitos escritos os mais importantes são: A Fenomenologia do Espírito, A Ciência da Lógica e A Filosofia do Direito.

Os dois primeiros talvez possam ser considerados os mais obscuros de toda a filosofia, e foram, portanto, os que mais produziram interpretações.

Hegel pode ser descrito como um monista, alguém que crê na totalidade única, o ESPÍRITO ABSOLUTO.

Hegel começou rejeitando a coisa em si de Kant e o mundo noumênico. Hegel afirmava que a tese de Kant de que algo que existia (a coisa em si) era incognoscível, era uma contradição flagrante, que violava as próprias leis de Kant sobre os limites do conhecimento.

Os idealistas e Hegel manifestaram a visão oposta de que tudo o que é, é cognoscível. Na famosa máxima de Hegel:

“O REAL É RACIONAL E O RACIONAL É REAL.”

Fundamental no pensamento de Hegel é a noção de que tudo está interligado. Enquanto a maioria dos filósofos a partir de Aristóteles defendia que a realidade tinha de ser separada em pares distintas – quer como fatos, objetos ou mônadas – Hegel dizia que nada era desconexo.

Para Hegel, a realidade última era a idéia absoluta – “a verdade é o todo”. Ele equiparava Verdade a Sistema. A peça individual só tem significado quando vista como parte do quebra-cabeça.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Além do Bem e do Mal - 11 (Nietzsche)


Parece-me que hoje todos se esforçam para minimizar a influência real que Kant exerceu na filosofia alemã e sobretudo insinuar prudentemente o valor que ele próprio se atribuía. Kant se orgulhava, antes de tudo, de sua tabela de categorias. Com essa tabela na mão dizia: "Isso é a coisa mais difícil que já pôde ser realizada em prol da metafísica". Compreenda-se bem esse "pôde ser"! Ele se sentia orgulhoso por ter descoberto no homem uma nova faculdade, a faculdade do juízo sintético a priori. Bem que cometeu um erro nesse ponto, pois o desenvolvimento e o rápido florescimento da filosofia alemã não deixam de ter menos participação nesse orgulho e no zelo que incitou a todos os jovens pensadores a descobrir, se possível, alguma coisa que os orgulhasse mais ainda - a descobrir, em todo caso, "novas faculdades". Mas reflitamos um pouco, posto que ainda temos tempo! De que modo são possíveis os juízos sintéticos a priori? se perguntava Kant. E que respondia? Por meio de uma faculdade. mas infelizmente não com essas poucas palavras, e sim de modo tão cerimonioso, tão venerável, com tal esbanjamento de profundidade e filigranas alemãs, a ponto de esquecer a alegre tolice alemã que se oculta no fundo de semelhante resposta. Melhor ainda, todos se sentiram tomados de alegria diante dessa descoberta de uma nova faculdade e o entusiasmo chegou ao cúmulo quando Kant acrescentou uma nova descoberta, uma faculdade moral no homem - pois naquele tempo os alemães ainda eram morais e ignoravam o realismo político. Essa foi a lua-de-mel da filosofia alemã. Todos os jovens teólogos do seminário de Tübingen se dedicaram a pesquisar para descobrir novas "faculdades". E o que foi que não se descobriu, durante esse período ainda tão juvenil da filosofia alemã, esse período inocente e rico, em que o romantismo, gênio maldoso, tocava e entoava sortilégios, quando não se sabia ainda distinguir entre "descobrir" e "inventar"! Descobriram principalmente uma faculdade para as coisa "supra-sensíveis". Schelling a denominou intuição intelectual, satisfazendo assim aos mais fervorosos desejos dos alemães, repletos de aspirações piedosas. A pior injustiça que se pode cometer contra esse impetuoso e entusiasta movimento que era só juventude, embora se disfarçasse audaciosamente com um manto de idéias cinzentas e senis, seria tê-lo levado a sério, tratá-lo realmente com indignação moral. Em resumo, tornaram-se mais velhos - e o sonho se desvaneceu. Chegou o momento em que passaram a esfregar os olhos. Antes de todos e em primeiro lugar, o velho Kant. "Por meio de uma faculdade", havia dito, mas queria dizer pelo menos. Mas isso é uma resposta? Uma explicação? Ou melhor, não é a simples repetição da pergunta? Por que o ópio faz dormir? "Por meio de uma faculdade", pela virtus dormitiva - respondia o médico de Molière:

"Quia est in eo virtus dormitiva
cujus est natura sensus assoupire"
[porque há nele uma faculdade dormitiva,
cuja natureza é entorpecer os sentidos]

Mas semelhantes respostas são convenientes para a comédia e finalmente chegou o tempo de substituir a pergunta de Kant: "Como são possíveis juízos sintéticos a priori?", por uma outra pergunta: "Por que é necessária a crença em tais juízos?" - isto é, de compreender que, para o fim da conservação de seres como nós, é preciso acreditar que tais juízos são verdadeiros; com o que, naturalmente, eles também poderiam ser falsos! Ou, dito de maneira clara e crua: juízos sintéticos a priori não deveriam absolutamente "ser possíveis": não temos direitos a eles, em nossa boca são somente juízos falsos. Mas é claro que temos que crer em sua verdade, uma crença de fachada e evidência que pertence à ótica-de-perspectivas da vida. - Por fim, considerando ainda a enorme influência que a "filosofia alemã" - espero que se entenda o seu direito às aspas - tem exercido na Europa, não se duvide que uma certa virtus dormitiva teve participação nisso: nobres ociosos, virtuosos, místicos, artistas, cristãos três-quartos e obscurantistas políticos de todas as nações estavam encantados possuir, graças à filosofia alemã, um antídoto para o sensualismo ainda predominante que do século anterior transbordou para este; em suma - "sensus assoupire"...

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Immanuel Kant


Kant nasceu, estudou, lecionou e morreu em Koenigsberg. Sua vida foi austera e regular como um relógio. Sofreu influências do pietismo, protestantismo luterano de tendência mística e pessimista e do Racionalismo de Leibniz. Mas, foi D. Hume que o fez acordar do seu sono dogmático. Em 1781 publica a Crítica da Razão Pura, sua obra maior, onde distingue o conhecimento sensível (que abrange as intuições sensíveis) e o conhecimento inteligível (que trata das idéias metafísicas). Neste livro explica essencialmente porque as metafísicas são voltadas ao fracasso e porque a razão humana é impotente para conhecer o fundo das coisas. Neste livro Kant tenta responder três questões fundamentais da filosofia: Que podemos saber? Que devemos fazer? Que nos é lícito esperar?

Kant tentou nos mostrar que, embora não possamos confiar em nossos sentidos para receber diretamente informações sobre a realidade, eles nos informam como a realidade aparece para nós. E a aparência da realidade não é apenas obra de hipóteses, como Hume afirmou, ela aponta além da experiência para a unidade transcendente entre a aparência do mundo e o que ele realmente é. Kant distinguiu entre o que o mundo realmente é e sua aparência. A aparência das coisas ele chamou de fenômeno. O mundo real ele denominou noúmeno ou a coisa-em-si. Afirmou que, embora não possamos conhecer o noúmeno diretamente, podemos apreendê-lo baseados na maneira como percebemos o mundo como fenômeno. Ou seja, Kant diz que jamais podemos experimentar a coisa-em-si diretamente. Tudo o que podemos conhecer diretamente são os fenômenos, que é aquilo que se apresenta ao nosso entendimento. Kant denominou “Categorias do Entendimento” os conceitos que organizam a realidade permitindo-nos compreender a experiência. Esses conceitos são: espaço, tempo, substancia e causalidade. Kant denominou esses conceitos de a priori. Conceitos a priori, vêm antes da experiência; eles tornam a experiência possível. Ou seja, não são conceitos que as pessoas formularam; eles existiam antes de nossa existência, antes de sequer pensarmos neles. Mas eles são necessários para que possamos compreender as coisas.

Com a Crítica da Razão Pura, Kant pretende um estudo sobre os limites do conhecimento. Seu método é a crítica, isto é, a analise reflexiva, onde a razão critica a si mesma, o que consiste em remontar às condições que tornam o conhecimento legítimo. Kant fez uma analogia entre sua abordagem da relação entre experiência e entendimento e a explicação de Copérnico sobre a relação entre a Terra e o Sol. Assim invertendo a atitude empírica em relação ao conhecimento, Kant, em vez de dizer que o conhecimento deve se conformar aos objetos, ele disse que os objetos devem se conformar ao conhecimento. Ou seja, os objetos são organizados pela mente; e como a mente organiza a realidade, permite-nos compreender a experiência.

Partindo da distinção de Hume entre idéias sobre o que existe e idéias sobre o que deveria ser, Kant propõe a visão de que existem categorias objetivas do pensamento moral. Ele se referiu ao pensamento moral como Razão Prática, o raciocínio sobre como deveríamos agir. Ele opôs a “razão prática” à “razão pura”, o raciocínio sobre o que existe. Em seu estudo da razão prática, Kant sustentou que podemos ter idéias universalmente válidas sobre o que deveríamos fazer, denominadas “imperativos”.

Kant descreveu o “imperativo categórico”, que possibilita o julgamento prático, assim como as categorias de substância, qualidade, etc. possibilitam o entendimento. O imperativo categórico, disse ele, é um “conceito a priori”. Podemos ver que é verdadeiro antes da experiência. Kant descreveu o imperativo categórico como uma lei moral universal. O imperativo categórico é uma lei moral que é válida para todo mundo e forma a base de nossa razão prática, ou entendimento moral. Não apenas se refere a como devemos agir, mas permite que nos comportemos como seres morais. Podemos dizer que nossas ações estão de acordo com essa lei se forem corretas e morais pra todos.